Tuesday, February 27, 2007

POEMAS


Morre-se de medoMorre-se de tédioMas do que se morre maisÉ da falta de amorMal sem remédio que nos faz desiguaisJá morremos mil vezesJá morremos de mil mortesPorém todas naturaisMas sempre renascemos para amar um pouco maisAté que um dia a solidãoDaninha-mãe das decisões finaisNos proíba o coração de bater mais.

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Anátema
Não amas, e não podesLer o livro da vidaSem amor nenhuns olhos são videntesA tarde triste é o sol que não consentes ao coração.Mundo de solidão,O que atravessas,É um deserto habitadoOnde tropeçasNa sombra do teu eu desencantado
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Ítaca
Se partires um dia rumo à Ítaca Faz votos de que o caminho seja longo repleto de aventuras, repleto de saber. Nem lestrigões, nem ciclopes, nem o colérico Posidon te intimidem! Eles no teu caminho jamais encontrarás Se altivo for teu pensamentoSe sutil emoção o teu corpo e o teu espírito. tocarNem lestrigões, nem ciclopes Nem o bravio Posidon hás de verSe tu mesmo não os levares dentro da almaSe tua alma não os puser dentro de ti. Faz votos de que o caminho seja longo. Numerosas serão as manhãs de verão Nas quais com que prazer, com que alegria Tu hás de entrar pela primeira vez um porto Para correr as lojas dos fenícios e belas mercancias adquirir. Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos E perfumes sensuais de toda espécie Quanto houver de aromas deleitosos. A muitas cidades do Egito peregrinas Para aprender, para aprender dos doutos. Tem todo o tempo ítaca na mente. Estás predestinado a ali chegar. Mas, não apresses a viagem nunca. Melhor muitos anos levares de jornada E fundeares na ilha velho enfim. Rico de quanto ganhaste no caminho Sem esperar riquezas que Ítaca te desse. Uma bela viagem deu-te Ítaca. Sem ela não te ponhas a caminho. Mais do que isso não lhe cumpre dar-te. Ítaca não te iludiu Se a achas pobre. Tu te tornaste sábio, um homem de experiência. E, agora, sabes o que significam Ítacas.
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Tu perguntas e eu não sei,Eu também não sei o que é o mar.É talvez uma lágrima caída dos meus olhosAo reler uma carta, quando é de noite.Os teus dentes, talvez os teus dentes,Miudos, brancos dentes, sejam o mar,Um mar pequeno e meu,Afável, Diáfano,E contudo só música distante"

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Deixa dizer-te os lindos versos rarosQue a minha boca pra te dizer!São talhados em mármore de ParosCinzelados por mim pra te oferecer.Têm dolências de veludos caros,São como sedas brancas a arder...Deixa dizer-te os lindos versos rarosQue foram feitos para te endoidecer!Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...Que a boca da mulher é sempre mais lindaSe dentro guarda um verso que não diz!Amo-te tanto! e nunca te beijei...E, nesse beijo, Amor, que eu te não deiGuardo os versos mais lindos que te fiz!
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IDEAL Aquela que eu adoro, não é feitaDe lírios nem de rosas purpurinas,Nem tem as formas lânguidas, divinas,Da Antiga Vénus de Cintura Estreita...Não é a Circe, cuja mão suspeitaCompõe filtros mortais entre ruinasNem a amazona que se agarra às crinasD'um Corcel e combate satisfeita...A mim mesmo pergunto e não atinoCom o nome que dê a essa visãoQue ora mostra ora esconde o meu destino...É como uma miragem que entrevejo,Ideal, que nasceu na solidão,Nuvem, sonho impalpável do desejo...
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ANÁTEMA

Não amas, e não podesLer o livro da vidaSem amor nenhuns olhos são videntes.A tarde triste é o sol que não consentes ao coraçãoMundo de solidão,O que atravessas,é um deserto habitadoOnde tropeçasNa sombra do teu eu desencantado.
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Sunday, February 25, 2007

Procura-se um Amigo


Procura-se um Amigo...

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaros, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar. Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer. Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive