Sunday, April 09, 2006

Dormindo com o Inimigo " A Familia"

Alguém já disse que ‘Toda revolução começa dentro de casa’.
Mas por que eu estou falando de “Inimigo” e “Revolução” num editorial que deveria se referir à e-jovens e Família? Simples. Se a gente quer que a coisa mude na sociedade em geral, temos que começar a tentar mudar o comportamento de nossas próprias famílias. Lógico que isso não é fácil – Como mudar a cabeça duma família que não sabe que você é gay? Pior – E quando a família é claramente homofóbica, isto é, demonstra enorme preconceito contra homossexuais?
O que eu vou fazer aqui é te dar uns toques pra você driblar esse tipo de situação. Pode chamar de um Guia de Sobrevivência em Casa... Vamos lá:
1) A sua sexualidade pertence a você
Básico. Não é da conta de ninguém o que você faz ou deixa de fazer sexualmente – só a você. Não se sai por aí prestando contas da sua vida sexual. Seus pais te contam da vida sexual deles? Seu irmão conta? (Ele deve se vangloriar quando cata alguma menina, mas não conta quando e como ele se masturba, conta?) Então você também não tem obrigação nenhuma de sair por aí falando que é gay ou que é lésbica. Não gratuitamente. E isso vale pras questões sobre seus amigos, suas saídas, o que você faz na net, etc. Se eles perguntarem diretamente, te colocarem na parede, aí você pode resolver se conta ou não – Você ainda pode sair pela tangente e falar que não é da conta deles, mas isso só vai deixá-los com mais suspeita... Veja o item 5)...
2) Combata comentários maldosos
Esse é um dos passos mais complicados – e um dos mais importantes. É impossível viver me paz num ambiente onde as pessoas estão constantemente sacaneando o seu jeito de ser, mesmo sem saber... E você pode ir dando uns toques quanto a isso, mesmo sem precisar “se entregar”. Tipo, não é legal fazer piadas racistas de negro ou nordestino e tudo bem se você chegar pra alguém e falar sério “Pô, cara, nada a ver essas piadinhas..” – mesmo se você não for negro ou nordestino. O mesmo vale para homossexuais. Não ser tolerante com discriminação dentro de casa já é um alerta pro seu povo perceber que os homossexuais são pessoas, que estão aí lutando pelo simples direito de ser quem são – e não merecem ser alvo de chacota. Tenha sempre em mãos bons argumentos, caso o toque se transforme em discussão (por exemplo, acompanhe sempre os fatos marcantes pra comunidade GLBT que a gente oferece toda semana na seção News...). Lógico – se você defender muito a causa gay, caímos novamente no item 5)...
3) Não tenha vergonha de encarar a homossexualidade
Isso vale para as discussões tratadas acima, mas tem mais. Muitos e-jovens fazem de tudo para que a palavra gay nunca entre em suas casas – como se cada programa de TV, matéria de revista, ou filme de vídeo fosse anunciar aos quatro cantos da casa que ele próprio é homossexual. Isso parece familiar? Começam a falar de gay na TV, e você tá com seu pai assistindo – você corre e muda de canal. Chegou a Superinteressante com matéria de capa sobre homossexualidade – você some com a revista. Aquele vídeo que você alugou, e tá a família toda assistindo, tem um beijo de dois caras e você nem sabia – mesmo assim você parece que vai sumir pra dentro do sofá... Não pode. Uma coisa que eu já vinha percebendo (e parece que fizeram até estudos a respeito) é que visibilidade gera tolerância. Ou seja – quanto mais seus pais e familiares se acostumarem com a presença dos gays, menos preconceituosos eles vão ser. Evitar o assunto “gay” dentro de casa pra não “chamar a atenção” pra você é besteira – isso gera ignorância e ignorância gera preconceito. O caso extremo dessaregra é, mais uma vez, o item 5)...
4) Seja um bom garoto(a)
Essa é curtinha e simples – você provavelmente (há exceções..) será o único exemplo de um homossexual próximo da sua família. Ou seja, muito do julgamento que eles farão sobre os homossexuais virá do seu comportamento. Qualquer coisa errada que você faça, mesmo que não tenha nada a ver com sexualidade, vai ser motivo pra eles dizerem que você é assim ou fez tal coisa porque é gay, ou porque seus amigos gays te levaram pro mau caminho. Então seja um bom garoto(a). Lógico, isso só acontece se eles souberem de você, o que nos leva direto (finalmente!!) ao item...
5) Surgiu a dúvida? Conte.
Ok, sua sexualidade não é da conta de ninguém – mas também não é nada errado. Se seus pais desconfiam, perguntam muito, jogam indiretas, e você não conta, fica parecendo que você está metido em algo sujo, proibido, perverso... E não existe imaginação mais fértil que a de um pai, uma mãe... Você contando logo, você tem muito mais moral pra coibir os comentários maldosos, vai mostrar pra todo mundo que você não tem vergonha de encarar a homossexualidade e, se você for um bom garoto, vai esfregar na cara deles que você é gay sim – e isso não muda nada no seu jeito de ser. “Mas meus pais não vão aceitar/vão me expulsar de casa/vão me matar!!!” – imprima a cartilha abaixo, Para os Pais, e espalhe pela casa. :)
Só mais uma coisinha antes de terminar: A revolução, na verdade, começa com você. Se você não se amar como você é e não se aceitar, nada disso faz sentido. Como você vai querer mudar a cabeça da sua família se você próprio nega o que você sente? E, mais adiante, como você pode esperar mudar a sociedade desse jeito??
Já ouviu falar de “Ame-o ou Deixe-o”? Você não pode se deixar – se ame.

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